O governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda anunciou um decreto inusitado. "Fica demitido o gerúndio de todos os órgãos do Governo do Distrito Federal", diz trecho do decreto.
Demissão como essa é raríssima, se não inédita. Mas o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, encheu-se de coragem e demitiu o gerúndio - isso mesmo, o tempo do verbo que se tornou uma praga principalmente no serviço público e nos serviços de call center - de todos os órgãos da administração pública da capital.
O inusitado decreto, que tem quatro linhas em quatro artigos, foi assinado pelo governador Arruda no dia 28, a última sexta-feira. Foi publicado nesta segunda na página 19 do Diário Oficial do Governo do Distrito Federal. O decreto é claro logo em seu artigo primeiro: "Fica demitido o gerúndio de todos os órgãos do Governo do Distrito Federal". E o artigo segundo do decreto continua firme no ataque ao tempo do verbo, ligando-a à deficiência verificada no serviço público: "Fica proibido a partir desta data o uso do gerúndio para desculpa de ineficiência".
Curioso, é que o texto seguiu o padrão de todos os decretos e estabeleceu, em seu artigo quarto, o lugar comum "Revogam-se as disposições em contrário". Não se tem notícia de que algum decreto anterior tenha obrigado o uso do gerúndio nas repartições do Distrito Federal.
O governador está em Nova York, atrás de verbas do Banco Mundial. Informou, por intermédio de sua assessoria, que buscou fazer uma provocação e que a idéia é atacar a burocracia dos governos.
De uns tempos para cá - principalmente pela influência da língua inglesa, que o utiliza muito - a burocracia das repartições públicas e os funcionários de call center passaram a usar e a abusar do gerúndio, desgastando-o sobremaneira. Não há quem não tenha ouvido nestes locais locuções como "eu vou estar transferindo o senhor", "nós vamos estar providenciando", e assim por diante, sempre com muito exagero do uso do gerúndio.
- Do ponto de vista da lei, não faz sentido demitir o Gerúndio (assim mesmo, com letra maiúscula).
- Do ponto de vista da língua, há ao menos uma impropriedade grave no decreto: o governador pretendia demitir o gerundismo, e não o gerúndio.
- Do ponto de vista do humor, ficaria mais divertido se a lei trouxesse exemplos de casos em que não se deve usar o gerundismo.
- Do ponto de vista do "protesto", o governador conseguiu chamar a atenção - mas uma lei sem sanção não tem garantia de que vá ser cumprida.
Se o objetivo era realmente abolir o gerúndio do governo do Distrito Federal, talvez o decreto não dê muito certo. Mas se o objetivo era chamar a atenção com um toque de bom humor... o caminho tomado foi no mínimo interessante.
Eu acho que ele fez pouco. Essa lei deveria fazer parte do Código Penal!
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