27/11/2007

Gentileza Gera Gentileza

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No meu breve período como supervisora de call center, lidei com as mais variadas situações e pessoas. Funcionários esforçados, brilhantes, inteligentes, preguiçosos, metidos a espertos, intimidadores, medianos, etc.

Sempre procurei não entendê-los como meros geradores de lucro, mas sim, como seres humanos. Na maioria das vezes, fui bem sucedida. Até quando eu tinha que aplicar uma advertência ou suspensão, não sentia neles qualquer revolta, porque eles sabiam que naquele momento tinham traído a minha confiança e também a empresa para a qual trabalhavam.

Durante muito tempo - tanto que já nem me lembro se fui diferente algun dia - procurei fazer da gentileza um estilo de vida. Como supervisora não cabia a mim somente criticar, mas também agradecer e elogiar os que se destacavam.

A troca de gentilezas sempre existiu e, com isso, consegui o carinho e a parceria da maioria deles. Uns dois ou três já estavam corrompidos pelo sistema e eu não teria desistido deles se não tivesse mudado de empresa.

Todos os meses os supervisores tinham que fazer uma apresentação de resultados para seus gestores, onde era analisada a performance de cada operador e da equipe como um todo. A mesma apresentação - com algumas informações confidenciais retiradas - era feita para a minha equipe e me lembro que, em uma delas, abordei técnicas de atendimento, onde citei o Profeta Gentileza, mostrando a importância da cortesia, simpatia e gentileza durante os atendimentos (sem gerundismos!).

"Gentileza Gera Gentileza" - um simples frase que diz tanta coisa! José Datrino, chamado Profeta Gentileza, tornou-se conhecido a partir de 1980 por fazer inscrições peculiares sob um viaduto no Rio de Janeiro, onde andava com uma túnica branca e longa barba.

Com mais nove irmãos, José Datrino teve uma infância de muito trabalho, onde lidava diretamente com a terra e com os animais. Para ajudar a família, puxava carroça vendendo lenha nas proximidades. O campo ensinou a José Datrino a amansar burros para o transporte de carga. Tempos depois, como profeta Gentileza, se dizia "amansador dos burros homens da cidade que não tinham esclarecimento".


Desde sua infância José Datrino era possuidor de um comportamento atípico. Por volta dos doze anos de idade, passou a ter premonições sobre sua missão na terra, onde acreditava que um dia, depois de constituir família, filhos e bens, deixaria tudo em prol de sua missão. Este comportamento causou preocupação em seus pais, que chegaram a suspeitar que o filho sofria de algum tipo de loucura, chegando a buscar ajuda em curandeiros espirituais.

Aos vinte anos foi para o estado do Rio de Janeiro, enquanto sua família mudava-se para Mirandópolis-SP. No Rio de Janeiro, casou com Emi Câmara com quem teve cinco filhos. Começou sua vida de empresário com um pequeno empreendimento na área de transportes, onde fazia fretes. Aos poucos, o negócio foi crescendo até se tornar uma transportadora de cargas sediada no centro da cidade do Rio.

Conta a história que, seis dias após uma das maiores tragédias ocorridas em Niterói, Rio de Janeiro (o incêndio do Circo Americano, em 1961), ele teria recebido um chamado divino que o impelira a dedicar o resto de seus dias a missão de consolar as pessoas perdoando-as, e ensinando-as a perdoar uns aos outros. Para isso despediu-se da família e desfez-se de todos os bens materiais. Passou a pregar a gentileza por toda a metrópole carioca e fluminense, tornando-se figura folclórica sobretudo entre os transeuntes das Barcas Rio-Niterói.

Na década de 80 deu início aos seus escritos nas pilastras do Viaduto do Cajú, recuperadas após terem sido apagadas pelos serviços de limpeza municipais, graças ao projeto "Rio com Gentileza", coordenado por Leonardo Guelman e divulgado amplamente no país e exterior pela cantora Marisa Monte.

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Datrino faleceu em 1996, aos 79 anos. Um profeta do amor, que passou sua vida fazendo pregação e levando palavras de amor, bondade e respeito pelo próximo e pela natureza a todos que cruzassem seu caminho.

Aos que o chamavam de louco, ele respondia: - "Sou maluco para te amar e louco para te salvar".



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