Zé Mané se achava 'o gostoso'. Batizado José Manoel, não haveria apelido mais perfeitinho para ele.
Zé Mané, quando ainda era só Manézinho, gostava de cantar as meninas da igreja, onde fazia o catecismo. Ele achava que elas eram mais inocentes e ele, por se achar muito esperto, atirava para todos os lados. Vivia tomando toco, o coitado.
Suas cantadas eram daquelas que toda mulher odeia, tipo 'Você tem certeza de que não quer ficar comigo?!?', 'Você é o ovo que faltava na minha marmita', ' O que que esse bombonzinho está fazendo fora da caixa?! ou 'Você não é pescoço mas mexeu com a minha cabeça!'.
E Zé Mané foi crescendo, e virando um Manézão. Cansado de tomar bola nas costas, procurava novas cantadas na internet, onde também tentava seduzir moçoilas nos chats e no msn.
De vez em quando Manézão dava uma dentro - pelo menos no primeiro encontro. Mas isso só acontecia com as desavisadas, que, por um motivo louco qualquer, cediam às investidas do bam-bam-bam.
Zé Manézão até que fazia o trabalho direitinho. Era gentil, educado, bom amante, mas se achava 'o fodão'. Mas seus relacionamentos nunca passavam do primeiro encontro.
Manézão culpava a internet, que não o provia de novas cantadas. Eram todas tão batidas, que ele era obrigado a se repetir sempre. 'Quer casar comigo e ser a mãe dos meus filhos?', 'Você acredita em amor à primeira vista, ou devo passar por aqui mais uma vez? ou 'Bonito sapato. Quer transar?'
Zézão já estava apelando, tamanho era seu desespero. Onde é que ele estava errando? Não conseguir entender a resistência das mulheres ao seu charme irresistível.
Um dia, já quase jogando a toalha, ela apareceu. Faceira, cheirosa, mulherão. Zé Mané ficou doido. Sabia que ela era diferente, especial. Não podia usar nenhuma cantada batida com aquela deusa.
Sabia que naquela noite a encontraria no forró do Ceará, um nordestino arretado que promovia um rala-coxa todas as sextas-feiras. Naquela sexta ele nem foi tomar umas biritas com os amigos. Tinha que se preparar para a sua musa.
Voltou para casa cedo, tomou banho, perfumou-se e foi para frente do espelho, treinar a cantada fatal. Mas alguma coisa estranha estava acontencendo. Manézão não conseguia se lembrar de nenhuma frase de efeito, nenhum xaveco que tivesse dado certo um dia.
Pensou ser uma coisa temporária, por causa da emoção e da expectativa de encontrar a morena. E foi fagueiro para o forró.
Chegou de mansinho, analisou o ambiente e lá estava ela, dançando animadamente com Rodolfinho, um playboy cheio da grana que sempre aparecia por lá e que era o sonho de consumo de 10 entre 10 mulheres do pedaço.
'Qual será a cantada de Rodolfinho?'. Salete, a morena, parecia se derreter nos braços daquele branquelo. Até que o destino fez-se presente.
Rodolfinho também ia ao banheiro, como todos os rapazes e manés do forró. Manezão tomou coragem e, aproveitando a ausência do concorrente, tirou Salete para dançar.
Ritmo quente, corpos colados, Salete entregue. E a cantada não vinha. Zé Mané começou a apavorar-se, pois sabia que Rodolfinho voltaria a qualquer momento para lhe roubar a morena.
Percebendo a agonia do Mané, Salete tratou de colaborar. Segurou o rosto de Manézão, olhou nos seus olhos, e, sem nada dizer, ofereceu-lhes os lábios carnudos. E Manézão, sem ter que usar nenhuma cantada, faturou a morena.
Moral da minha história: Palavras se evaporam; atitudes marcam.
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