22/06/2008

Se tem um assunto que me fascina, não pelo horror em si, mas pelos fatos curiosos que se tornaram públicos, é a ditadura militar.

De 64 a 89, os militares reinaram absolutos, prendendo, torturando e expulsando pessoas que tinham ousado não se curvar: operários, camponeses, sindicalistas, dirigentes populares, intelectuais, políticos democratas, artistas.

Lembro-me bem das cenas veiculadas da Rede Globo, mostrando o retorno dos exilados ao País, por conta da Anistia.Um mês após retornar ao Brasil, em 1979, uma tanga de crochê azul e lilás foi a arma usada pelo ex-terrorista Fernando Gabeira para fazer história no verão de 1980. Expulso do País em 1969 como um dos seqüestradores do embaixador americano Charles Elbrick, ele apareceu em pleno Posto Nove, na Praia de Ipanema, no Rio, trajando o que seria a parte de baixo do biquíni de sua prima, a jornalista Leda Nagle. Acostumado ao nudismo europeu, não tinha sunga e pegou emprestada a calcinha de crochê de Leda, feita pela mãe da jornalista.

“ Você corta um verso, eu escrevo outro

Você me prende vivo, eu escapo morto”

Pesadelo – M. Tapajós e Paulo C. Pinheiro

Durante duas décadas, a censura impôs o seu conceito de estado, moral e civismo em prol do regime dos presidentes vindos da caserna. Este período foi dividido em dois, o primeiro, de 1964 a 1968, considerado mais brando, que ocasionou um erro histórico das lideranças políticas da época, que viam 1968 como o ano em que a ditadura estava enfraquecida e pronta para ser derrubada, erro que terminou na promulgação do Ato Institucional número 5 (AI-5), de 13 de dezembro de 1968, que fechou o Congresso, cassou mandatos, negando hábeas corpus aos presos políticos. O regime militar entrou na sua segunda fase, com um endurecimento maior.

Após o AI-5, a liberdade de expressão passou a ser vigiada, todos os veículos de comunicação (imprensa, música, televisão, teatro, cinema) deveriam ter as suas pautas previamente aprovadas, sujeitas à inspeção local por agentes autorizados.A imagem que o autoritarismo do regime militar no Brasil queria passar era a de um governo estável politicamente, de uma nação regida por uma rígida moral cristã e de bons costumes, de um país próspero e em pleno ápice do desenvolvimento. Qualquer menção à tortura, à perseguição política ou à falta de liberdade de pensamentos, era proibida, omitida diante de uma nação que, na maioria das vezes, sua população não sabia o que estava a acontecer nos calabouços da ditadura, ou, no jogo de poder que assolava a nação.

A MPB teve várias canções censuradas, com “Cálice” (Chico Buarque – Gilberto Gil), “Apesar de Você” (Chico Buarque) ou “Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores” (Geraldo Vandré). Capas de discos foram censuradas, como a do álbum “Índia”, de Gal Costa, de 1973, em que a cantora trazia um close frontal em uma vestida de uma tanga minúscula. A censura ao corpo do cantor Ney Matogrosso, que na época fazia parte da banda “Secos & Molhados” (1973), apresentando-se sem camisa. Como conseqüência, a televisão só podia focalizar o seu rosto, ou o corpo ao longe, sem closes.O cinema foi um dos veículos de comunicação mais prejudicado pela censura da ditadura militar. Filmes como “Emmanuelle” (1974), com Sylvia Kristel, “O Último Tango Em Paris” (1972), com Marlon Brando, só foram exibidos em 1980, quando a ditadura militar proporcionou uma abertura e liberou certas obras censuradas. Mas o filme “Pra Frente Brasil”, de1982, que falava da tortura no regime militar, não escapou à tesoura da censura.

A censura não poupou a telenovela, que se tornou o principal produto de consumo do telespectador brasileiro. Autores como Dias Gomes, Janete Clair, Lauro César Muniz e Mário Prata, tiveram seus textos destruídos pelos censores, que se encarregavam de verificar se o que ia ao ar estava de acordo com as regras do regime militar e com os seus valores morais. Para os militares, artistas da MPB, movimentos operário e estudantil conspiravam para desestabilizar o regime. Os artistas lutavam pelo direito de sobrevivência no mercado de trabalho. Foi um período de grande efervescência cultural e política, onde a chamada música de protesto floresceu e se tornou a grande trincheira de resistência ao autoritarismo.

A ditadura ficou no passado. Os heróis engajados também. O que faz a nossa juventude de hoje? Passa dias acordada ao som da música eletrônica, álcool e drogas, nas raves da vida? Sacodem a bundinha ao som do funk proibidão, que faz apologia ao crime organizado? Queimam índio, espancam prostitutas? Desde a campanha pelas Diretas Já e pelo impeachment do Collor, onde se enfiaram as pessoas? Quem virou herói do povo, depois da trágica morte de Ayrton Senna? Quantos de nós assinamos o manifesto Amazônia Para Sempre?

***

Ah, antes que eu me esqueça, tínhamos marcado nossa festa para o dia 28/06 (confiram aqui). Voces se confundiram, foi? Até o Anonymous se confundiu, sô! Mas fico feliz que, mesmo sem a minha presença, vocês tenham se divertido!

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