16/12/2008

Em terra de cego...

- Aquele cara é cuspido e escarrado o pai dele...

- Mãe, não é cuspido e escarrado. É esculpido e encarnado.

- Hein?

E fui dar uma googlada pra me atualizar, que não sou boba nem nada. Não é que ela tem razão?

O que é um ditado popular? Ditado, como o próprio nome diz, é a expressão que através dos anos se mantém imutável, aplicando exemplos morais, filosóficos e religiosos. Os provérbios e os ditados populares constituem uma parte importante de cada cultura.

Historiadores e escritores já tentaram descobrir a origem dos ditados populares, mas essa tarefa não é fácil.

A gente, diariamente, usa certas expressões, como O pior cego é aquele que não quer ver, mas não tem idéia de como elas surgiram e o que significam.

Muitos desses ditados são seculares e foram exportados para o Brasil, com algumas pequenas alterações feitas pelo povão.

Vamos ver alguns?

Santinha do pau oco

Expressão que se refere à pessoa que se faz de boazinha, mas não é. Nos século XVIII e XIX os contrabandistas de ouro em pó, moedas e pedras preciosas utilizavam estátuas de santos ocas por dentro. O santo era "recheado" com preciosidades roubadas e enviado para Portugal.

Sem eira nem beira

Significa pessoas sem bens, sem posses. Eira é um terreno de terra batida ou cimento onde grãos ficam ao ar livre para secar. Beira é a beirada da eira. Quando uma eira não tem beira, o vento leva os grãos e o proprietário fica sem nada. Na região nordeste este ditado tem o mesmo significado mas outra explicação. Dizem que antigamente as casas das pessoas ricas tinham um telhado triplo: a eira, a beira e a tribeira como era chamada a parte mais alta do telhado. As pessoas mais pobres não tinham condições de fazer este telhado , então construíam somente a tribeira ficando assim "sem eira nem beira".

O pior cego é o que não quer ver

Em 1647, em Nimes, na França, na universidade local, o doutor Vicent de Paul D’Argenrt fez o primeiro transplante de córnea em um aldeão de nome Angel. Foi um sucesso da medicina da época, menos para Angel, que assim que passou a enxergar ficou horrorizado com o mundo que via. Disse que o mundo que ele imagina era muito melhor. Pediu ao cirurgião que arrancasse seus olhos. O caso foi acabar no tribunal de Paris e no Vaticano. Angel ganhou a causa e entrou para a história como o cego que não quis ver.

Casa de mãe Joana

Esta vem da Itália. Joana, rainha de Nápoles e condessa de Provença (1326-1382), liberou os bordéis em Avignon, onde estava refugiada, e mandou escrever nos estatutos:

“Que tenha uma porta por onde todos entrarão”. O lugar ficou conhecido como Paço de Mãe Joana, em Portugal. Ao vir para o Brasil a expressão virou “Casa da Mãe Joana”. A outra expressão envolvendo Mãe Joana, um tanto chula, tem a mesma origem, naturalmente.

Onde Judas perdeu as botas

Depois de trair Jesus e receber 30 dinheiros, Judas caiu em depressão e culpa, vindo a se suicidar enforcando-se numa árvore. Acontece que ele se matou sem as botas. E os 30 dinheiros não foram encontrados com ele. Logo os soldados partiram em busca das botas de Judas, onde, provavelmente, estaria o dinheiro. A história é omissa daí pra frente. Nunca saberemos se acharam ou não as botas e o dinheiro. Mas a expressão atravessou vinte séculos.

Deixar de Nhenhenhém

Nheë, em tupi, quer dizer falar. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, eles não entendiam aquela falação estranha e diziam que os portugueses ficavam a dizer “nhen-nhen-nhen”.

Pensando na morte da bezerra

Esta é bíblica. Como vocês sabem, o bezerro era adorado pelos hebreus e sacrificados para Deus num altar. Quando Absalão, por não ter mais bezerros, resolveu sacrificar uma bezerra, seu filho menor, que tinha grande carinho pelo animal, se opôs. Em vão. A bezerra foi oferecida aos céus e o garoto passou o resto da vida sentado do lado do altar “pensando na morte da bezerra”. Consta que meses depois veio a falecer.

Agora é tarde Inês é morta

Inês de Castro (1320 – 1355), famosa por sua beleza, era de origem Castelhana, mas vivia na corte portuguesa onde tornou-se amante do príncipe herdeiro D. Pedro. Com a morte de Constança esposa de D. Pedro, eles passaram a viver juntos e tiveram inclusive 3 filhos. Isso desagradava o rei, D. Afonso IV que se preocupava com a origem espanhola de Inês. Aproveitando uma viagem do filho, D. Afonso consentiu no assassínio de Inês. Quando se tornou rei, D. Pedro ordenou que se desenterrasse Inês, para que numa cerimônia palaciana, fosse rainha depois de morta. Hoje a frase é usada para conceituar a inutilidade de certas ações.

Jurar de pés juntos

A expressão surgiu através das torturas executadas pela Santa Inquisição, as quais o acusado de heresias tinha as mãos e os pés amarrados (juntos) e era torturado para dizer nada além da verdade. Até hoje o termo é usado para expressar a veracidade de algo que uma pessoa diz.

Tirar o cavalo da chuva

No século XIX, quando uma visita iria ser breve, ela deixava o cavalo ao relento em frente à casa do anfitrião e se fosse demorar, colocava o cavalo nos fundos da casa, em um lugar protegido da chuva e do sol. Contudo, o convidado só poderia por o animal protegido da chuva se o anfitrião percebesse que a visita estava boa e dissesse: "pode tirar o cavalo da chuva". Depois disso, a expressão passou a significar a desistência de alguma coisa.

Guardar a sete chaves

No século XIII, os reis de Portugal adotavam um sistema de arquivamento de jóias e documentos importantes da corte através de um baú que possuía quatro fechaduras, sendo que cada chave era distribuída a um alto funcionário do reino. Portanto eram apenas quatro chaves. O número sete passou a ser utilizado devido ao valor místico atribuído a ele, desde a época das religiões primitivas. A partir daí começou-se a utilizar o termo "guardar a sete chaves" para designar algo muito bem guardado.

Bom, já é tarde....vou botar minhas barbas de molho....

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Por favor, comentem! Sinto-me inútil sem comentários...rs

Disqus