24/09/2009

Sobre blogueiros e ciberbullying


Durante a semana de moda de Nova York, realizada neste mês, uma blogueira de 13 anos dividiu atenção com as estampas florais, as botas, Victoria Beckham e até Madonna. A responsável por todo esse alvoroço foi Tavi Gevinson, descrita em seu próprio blog como “uma pequena babaca de 13 anos, que fica em casa o dia todo, com jaquetas estranhas e lindos chapéus”.

Além de aparecer em diversas publicações, a jovem de Chicago tirou fotos de celebridades, apareceu ao lado de muitas delas e também ocupou a primeira fileira de desfiles disputados em Nova York. Atrás dela, conta o “Guardian”, sentaram-se muitas celebridades e editores de revistas de moda.

A publicação britânica conta que, no início, houve desconfianças sobre a autoria do conteúdo postado no blog: isso porque as informações tinham ares profissionais, assim como as análises de revistas. A jovem também postava suas próprias combinações, que pareciam bastante ousadas para alguém de sua idade.

A confirmação de que Tavi é a autora do blog veio em dezembro do ano passado, oito meses após a criação da página. Isso aconteceu quando a jovem foi procurada por Kate and Laura Mulleavy, as irmãs responsáveis pela marca Rodarte, que conheceram Tavi pessoalmente. Desde então, a blogueira tornou-se musa das irmãs e dos fãs de moda. “Ela faz com que a gente pense de uma forma diferente”, disse Kate, segundo o “Guardian”.

Para participar da semana de moda de Nova York, Tavi faltou na escola durante uma semana. Seu pai, que é professor, acompanhou a filha no evento e esperou do lado de fora das salas de desfiles. “Estou muito surpresa pela forma rápida como as coisas aconteceram”, disse a jovem. Segundo Tavis, apenas alguns colegas de classe entendem a maneira como ela se veste.

Ciberbullying

Erick Itakura, pesquisador do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática da Pontifícia Universidade Católica (PUC), classifica a agressão na blogosfera como um tipo de ciberbullying - o termo define um comportamento agressivo e repetitivo adotado contra alguém no universo virtual, mesmo sem motivação aparente.

“O blogueiro exerce o direito dele de liberdade de expressão. Mas muitos leitores se incomodam e acabam querendo impor outras verdades”, afirmou o especialista, lembrando que a sensação de anonimato existente na internet facilita esse tipo de ação.

Segundo Itakura, as reações extremas na blogosfera acontecem quando alguém tem dificuldades em lidar com os sentimentos provocados pelo conteúdo postado - seja ele raiva, frustração, inveja ou admiração. “A agressão mostra que, de alguma forma, as informações tocaram a pessoa e ela não soube lidar com isso. Às vezes é mais fácil o leitor enxergar um defeito no blogueiro, que se expõe, do que nele mesmo.”

Rosana Hermann, dona do Querido Leitor, já chegou a fechar um blog e sair do país com a família, depois de receber uma ameaça no estilo “sei onde seus filhos estudam”.

Em outra ocasião, pagou um advogado até conseguir quebrar na Justiça o sigilo de um leitor definido por ela como “o clássico covarde na vida real, que se torna o bam-bam-bam atrevido sob o manto do anonimato”.

No segundo caso, após quebra de sigilo, ela acabou conversando com esse leitor pelo telefone - ao identificar seu perfil, Rosana acabou desistindo do processo. O homem tinha 42 anos, era um administrador de empresas desempregado, morava com os pais, era separado e justificou os meses de perseguição à blogueira dizendo que queria ser como ela.

Depois de quase dez anos na blogosfera, Rosana diz que sua reação à agressão dos leitores depende de seu estado de espírito. “Quando vejo que a pessoa realmente só quer atenção, ignoro. Quando acho que existe alguma chance de trazê-la para a ‘luz’, comento no blog. Mas aí os outros leitores reclamam, dizendo que só dou atenção para quem me ofende”.

Se o comentário feito pelo internauta for mais “pesado, patológico ou perigoso”, ela o repassa a seu advogado, para que ele tome medidas legais.

O advogado Marcel Leonardi, especialista em direito digital, não vê problemas quando as críticas feitas em um blog são dirigidas ao conteúdo postado, e não à pessoa - nestes casos, eles diz que o debate é válido e está dentro dos limites da liberdade de manifestação de pensamento. No entanto, quando o leitor passa a ofender o blogueiro pessoalmente e vice-versa, pode-se cogitar os crimes de calúnia, injúria ou difamação.

Se isso acontecer e o blogueiro quiser entrar com uma ação judicial, Leonardi aconselha a não apagar o comentário. A informação preservada permite descobrir, com auxílio da Justiça, o endereço IP de quem publicou o texto. Assim, é possível identificar o responsável pela ofensa e tomar as medidas cabíveis.

Opinião

O jornalista Vitor Birner, 40, diz ser diariamente agredido nos comentários postados no Blog do Birner, uma página para fãs de futebol. “Há várias formar de agressão. O leitor mente a meu respeito, diz que falei o que não falei, fiz o que não fiz, penso o que não penso. E eu aprovo os comentários na gigantesca maiorias das vezes, por achar que as pessoas devem mostrar quem são”. Segundo ele, também há muitas colocações interessantes, de pessoas inteligentes em sua página. “O blog é um local de informação e opinião. Ter de tudo faz parte.”

No mesmo endereço virtual desde 2007, Birner geralmente releva as agressões. No entanto, confessa que vez ou outra tem “seus dias” e responde às provocações deixadas na página. “Quando dizem que manipulo as informações, recomendo que não voltem ao meu blog. Se não acreditam no que escrevo, não devem perder seu tempo precioso de vida comigo.”

A estratégia de Renê Fraga, 25 anos, é tentar entender os leitores do Google Discovery - mesmo aqueles mais agressivos. Ele diz sempre tentar oferecer um espaço para que o usuário da página expresse suas idéias.

“O trabalho do blogueiro é público e estamos envolvidos com diferentes tipos de pessoas. Por isso, é sempre importante manter uma conversação entre todos os envolvidos na blogosfera, respeitando suas opiniões”, defende.

Sem comentários

Já o Te Dou Um Dado?, com informações sobre o universo das celebridades, adota a direção oposta. A página criada por três blogueiros em abril de 2007 era aberta para comentários, mas com o tempo eles foram fechados. “Como a voz do povo definitivamente não é a voz de Deus, acabamos com essa história”, contou Ana Paula Barbi, a Polly, uma das criadoras do site.

A falta de espaço para comentários não impede, no entanto, que pessoas dispostas a agredir mandem e-mails para os blogueiros, muitas vezes com endereços falsos. “Quando ficaram sabendo que sofri uma parada respiratória, choveram mensagens. Mas o número de e-mails desejando melhoras foi infinitamente maior do que os xingando e celebrando minha quase-morte.”

Polly garante nunca se ofender com esse tipo de agressão, alegando que as pessoas não sabem xingar direito. “Elas não são criativas. É sempre aquela história de ‘você é gorda’. Poxa, jura? Valeu o toque, nunca tinha reparado”, ironizou a blogueira. “Grande parte desse recalque vem de uma vontade enorme de ser igual a nós. A pessoa queria muito ter um blog legal, mas não consegue e então apela para a agressão”, continuou, ecoando a explicação do psicólogo Erick Itakura.

Fonte: G1

Recadinho da Mariquinha para os espíritos do mal e sem luz que às vezes erram o caminho do inferno e vem parar aqui: vão procurar ajuda psicológica!

P.S.: o negrito é meu.

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