02/11/2007

Flores de uma Mãe


- Filha, quero que você vá passar uns dias na casa da sua amiga. O médico disse que eu estou com hepatite e eu não quero contaminar você.

- Mas mãe! Hepatite não cura em 'uns dias'! Eu não quero ficar fora da minha casa!

- É para o seu bem, filha. Mamãe não vai poder cuidar de você e lá você vai se divertir. Vai ser bom, você vai ver.

Seis meses depois essa mãe morria vítima de um câncer generalizado. O médico errara seu diagnóstico inicial e pouco se pode fazer em tão pouco tempo. Ela partiu num dia em que não reconheceu mais a filha. Morreu sem saber que tinha câncer, porque a família achou melhor assim. Isso foi há 30 anos atrás.

*********

- Seu pai não está se sentindo bem. Não acha melhor levá-lo ao médico?

Depois de algumas horas deitado lá naquela enfermaria, tomando soro e medicação, o doutorzinho o liberou.

- Mas doutor...eu vim para cá com dor nas costas e vou voltar com dor nas costas?
- Provavelmente o senhor está com algum problema na coluna. É muito comum na sua idade. Mas a medicação fará efeito e o senhor terá que fazer umas radiografias.

Ele e a filha foram para casa. Ele parecia ter encolhido. Estava abatido e fraco.

- Pai, enquanto você não melhorar, quero que fique na minha casa.
- Eu já disse que não gosto de incomodar ninguém. Eu estou bem e se eu precisar, eu telefono.

Ele era teimoso. Sentia-se um super-herói.

Mas no dia seguinte, ele não apareceu como de costume para levar o jornal para a filha, como fazia todos os dias, religiosamente. Ela telefonou; ele não atendeu. Ela resolveu ir à casa dele, ao lado da dela, para saber o que estava acontecendo.

Passou antes na casa da vizinha, sua tia:

- Tia, viu meu pai hoje?
- Não apareceu hoje na varanda.
- Tia...vamos lá comigo? Estou com o coração apertado...

Ela abriu a porta. Chamou pelo pai. Nenhuma resposta. Medo. Continuou entrando, mas querendo correr para bem longe, evitar o que seu coração confirmava ter acontecido.

Passou pela sala e chegou à cozinha. Um grito agudo. Uma dor infinita. Seu pai estava caído no chão, inerte. Ela correu para fora, gritou por socorro. Os vizinhos vieram acudir. Sentada na varanda, em estado de choque, só conseguiu ouvir seu primo ao telefone dizendo 'ele está morto'.

Nesse dia de Finados, eu não queria fazer um post triste. Mas esses são os meus mortos, minha mãe e meu pai. Ela eu perdi com 16 anos. Ele, há 3 anos. Foram os melhores pais que eu poderia querer nessa vida.

Aos meus pais, meu amor eterno. Descansem em paz...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Por favor, comentem! Sinto-me inútil sem comentários...rs

Disqus