15/04/2008

Eu bem que tento levar minha vida em frente, mas a imagem da menina Isabella me vem constantemente à lembrança. A opinião pública e a imprensa cobram o nome - ou nomes - do assassino. Eu tento entender o motivo que levou alguém a cometer ato tão cruel.

O caso acabou virando uma novela. Contradições, imperícias, declarações prematuras e demora em solucionar o crime nos levam à especulação.

Ouvi ontem na TV que a perícia voltou ao apartamento 7 vezes! Não acham isso totalmente incomum? Tendo sido o apartamento liberado para o avô e a irmã de Nardoni, para que eles pegassem roupas para os filhos pequenos, a cena do crime já teria sido violada, invalidando qualquer prova encontrada ali após a primeira perícia.

Somente ontem os advogados entregaram à polícia as roupas que Isabella e Ana Carolina Jatobá usavam na noite do crime. Depois de mais de 20 dias? Quem tinha interesse em retardar essa entrega?

Mas isso é caso para a polícia resolver, baseada nos demorados laudos da perícia, que ainda não foram concluídos.

Um crime bárbaro aconteceu. Há contradições entre os depoimentos. Uma criança foi esganada e atirada pela janela, de uma altura de 6 andares. O culpado está solto. Isabella, morta. E nós, reféns da violência.

A morte da (minha) menina

(José Pedro Goulart, jornalista, cineasta e diretor de filmes publicitários - Porto Alegre/RS)

Tentei pensar em outro assunto. Tentei. Mas não consegui (aliás, não consigo). O rosto da filha dele me vem a toda hora, o rostinho dela. Uma menininha. Li nos jornais que ouviram ela dizer: "pára, papai". Ela pediu para parar? Valha-me minha Nossa Senhora, ela pediu para parar? Parar o quê?

Há quem critique a imprensa por estar dando um destaque exagerado ao assassinato da menina Isabella, inclusive vendo excessos naquilo que chamam de "condenação prematura" do pai e da madrasta. E eu, querendo me agarrar numa lógica que sempre segui, de ver os dois lados, esperar os fatos - como se essa lógica fosse uma bóia - só me afundo num mar profundo de raiva, de dor. Essa bóia não me serve nesse mar.

É que me vem o rosto dela, já sonhei e acordei pensando nele. E fiquei obcecado pela voz também, de tal maneira que me pus em pranto outro dia quando minha filha disse "pára, papai", isso quando eu fazia cócegas nela. A morte da filha dele pôs a minha bóia, na qual venho me sustentando por uma vida, em xeque. Me surpreendi querendo vingança. Descuidado, pensei em justiça a qualquer preço. Perdi um tanto de civilidade.

A briga, a surra, o desfalecimento. Em seguida, o teatro: o corte da rede, primeiro com uma tesoura, depois com uma faca (depressa, depressa!) e então o arremesso da criança AINDA VIVA. Valha-me, valha-me, valha-me o diabo. De que somos feitos? Quem é que somos? É possível alguma ordem nesse inferno?

Houve um crime terrível. Uma menina foi morta. Não, ela não se chama Isabella. Essa é a filha dele. Houve um "outro" crime terrível. E esse diz respeito a mim. Dentro de mim morreu uma menina que, apesar de eu ter envelhecido sempre procurei mantê-la assim, uma criança. E essa menina eu chamava de Ilusão.

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