26/10/2008

Apesar da Ditadura

Quarenta e seis anos depois, médicos que foram impedidos pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops) de realizar a cerimônia de formatura, durante o regime militar, voltam ao cenário da censura para concluir a festa de colação de grau pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Quatro médicos chegam ao cenário de um drama que eles nunca conseguiram esquecer: o Hospital Universitário Pedro Ernesto, no campus da UERJ. Todos eram jovens estudantes de medicina quando participaram – no local - de um protesto contra a falta de liberdade no regime militar, em 22 de outubro de 1968.

Paulo Cruz Nunes era um dos estudantes, cursava o segundo ano de medicina e havia acabado de completar 21 anos. Durante a manifestação, um dos tiros disparados pela polícia atinge Luiz Paulo na cabeça. O estudante passa três horas e 15 minutos na mesa de cirurgia, mas não resiste.

O pesadelo estava só começando. Quando chega o dia da formatura, no final de 1962, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, os 128 estudantes daquela turma de medicina têm uma surpresa: o discurso - que homenageava o colega morto - é vetado pelo Dops. Um trecho dizia: "Por que matar um jovem cheio de promessas ? Lá se foi o desventurado Luiz Paulo, para nunca mais..."

A turma é proibida de escolher Luiz Paulo como patrono da formatura. Em um gesto de protesto, os estudantes começam a repetir em coro o nome do colega morto. O diretor da escola ordena que a solenidade seja suspensa. Não houve festa de formatura e os jovens médicos foram chamados depois à reitoria, em pequenos grupos, para receber os diplomas.

Quase meio século depois daquele outubro sangrento, os médicos que, na época, eram rapazes e moças de 20 e poucos anos decidem que era chegada a hora de, finalmente, fazer a festa tão sonhada. O paraninfo, hoje com 87 anos, não poderia faltar. Os pais de Luiz Paulo já morreram.

Mas um sobrinho, também estudante de medicina, recebe em nome da família o diploma que não pôde ser entregue a Luiz Paulo. Um dos médicos faz questão de levar o neto de três meses para testemunhar o grande reencontro. Todos ouvem o discurso proibido. Tanto tempo depois, o estudante morto numa manifestação é finalmente aclamado patrono da turma.

Atualizando: Veja o vídeo aqui.

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