17/08/2008

Nossos bravos atletas

Diego Hypólito quase não conseguiu falar após a final do solo masculino neste domingo. Arrasado pela queda ao final de sua apresentação, responsável pelo sexto lugar na classificação final, o ginasta murmurou poucas palavras e pediu desculpas pelo erro.

"Peço desculpas aos brasileiros. Treinei muito bem, tudo certo, e não sei o que aconteceu", lamentou o paulista, que era a principal esperança de medalhas da ginástica brasileira nos Jogos de Pequim. "Mais do que ninguém eu queria essa medalha".

O atleta mostrou total desconsolo com o erro que lhe tirou chances de pódio olímpico. "Esse último movimento que eu faço [um duplo twist grupado] é um que eu já faço há muito tempo, eu nunca erro", reiterou Diego.

O sofrimento de Diego começou ainda no tablado. Após performance quase impecável, o ginasta caiu em sua última aterrissagem e mostrou total perplexidade, quase não conseguindo se levantar do chão. Diego se encaminhou para o banco próximo ao aparelho, aguardou sua nota e sequer continuou acompanhando a prova.

Diego foi perfeito. Ganhando ou não medalhas, vestiu a camisa e representou o País, que pouco faz pelos nossos atletas.

Duas pisadas fora do tablado tiraram de Daiane dos Santos a medalha nos Jogos Olímpicos. A cena, que aconteceu em Atenas-2004, se repetiu neste domingo em Pequim-2008. Com isso, a atleta perdeu pontos decisivos na final do solo e encerrou a sua participação nos Jogos Olímpicos longe do pódio, em sexto lugar, com a nota 14,975.

O ouro foi para as mãos da romena Sandra Izbasa. Última a se apresentar, a européia somou 15,650 pontos e desbancou as norte-americanas Shawn Johnson e Anastasia Liukin, prata e bronze, respectivamente. A chinesa Fei Cheng, candidata a pódio, voltou a cair, como fez na decisão do salto, e terminou na sétima colocação.

O resultado obtido neste domingo encerra a carreira de Daiane na seleção sem apagar a má impressão deixada nos Jogos de Atenas-2004. Na ocasião, favorita ao ouro, a ginasta deixou a Grécia com um amargo quinto lugar, após também pisar duas vezes fora do solo.

Daiane chegou a Pequim sem a pressão de quatro anos atrás. Na final, a atleta era apontada como zebra, uma vez que fez apenas a quinta melhor marca nas eliminatórias.

Estrela da modalidade desde o título mundial do solo em 2003, o primeiro de uma brasileira no esporte, Daiane agora passa o bastão para atletas em ascensão, como Jade Barbosa e Ana Cláudia Silva.

A ginasta começou tarde na ginástica, aos 11 anos, após ter sido vista brincando com uma amiga em um parque de Porto Alegre. Treinando forte, a atleta se destacou no Pan de Winnipeg-1999, conquistando uma medalha de prata (salto) e duas de bronze (solo e equipes).

Em 2003, uma cirurgia no joelho atrapalhou o desempenho da atleta no Pan de Santo Domingo. Daiane saiu da República Dominicana apenas com a medalha de bronze por equipes. A frustração, entretanto, durou pouco. Duas semanas depois, em Anaheim, a ginasta faturou a medalha de ouro no Campeonato Mundial.

Além do título, Daiane colocou o duplo twist carpado apresentado em sua coreografia na lista de movimentos oficiais da ginástica, com o nome de "Dos Santos". Uma variação da acrobacia, o duplo twist esticado, também foi catalogada pela Federação Internacional de Ginástica (FIG).

Após o título mundial, o 'Brasileirinho' de Daiane tornou-se uma coqueluche nacional. Mas a atleta voltou a enfrentar problemas de contusão. Uma outra cirurgia no joelho, realizada antes dos Jogos de Atenas, prejudicou a preparação para a Olimpíada.

O fracasso em Atenas tirou um pouco Daiane dos holofotes. A atleta ganhou mais algumas etapas do circuito internacional, sendo a principal delas a Superfinal de 2006, no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo.

Entretanto, Daiane acabou se tornando uma coadjuvante na seleção, ofuscada por Diego Hypólito e Jade Barbosa.

Principal nome da nova geração da ginástica artística do Brasil, Jade Barbosa, de 17 anos, deixou os Jogos Olímpicos de Pequim sem medalhas. Neste domingo, em sua terceira final na competição, a atleta terminou em sétimo lugar no salto.

Apontada como o principal nome feminino da modalidade no país, após as três medalhas conquistadas nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro e o bronze do individual geral do Mundial de Stuttgart no ano passado, Jade não conseguiu subir ao pódio em Pequim.

Durante a semana, ela foi oitava colocada na disputa por equipes e décima no individual geral. No salto, voltou a mostrar erros em sua apresentação, não passando do sétimo lugar com a nota de 14,487 entre as oito participantes.

A medalha de ouro da prova foi para a norte-coreana estreante Un Jong Hong com a nota de 15,650. Ela passou a uzbeque naturalizada alemã Oksana Chusovitina, medalha de prata com 15,575 de nota. A favorita Fei Cheng, da China, caiu em uma de suas aterrissagens e foi bronze com 15,562.

Nas duas apresentações no salto, Jade teve uma queda imperfeita, quase encostando os joelhos no solo. Para o primeiro salto, foi dada a nota de 14,725. No segundo, a brasileira teve 14,250. Como comparação, no Pan, com a medalha de ouro, Jade teve 14,912 de pontos.

A atleta apresentou uma série de dificuldade menor do que a da final por equipes. "Eu sabia que não tinha chance de medalha por causa das notas das outras meninas. Se tivesse feito o salto de anteontem e tivesse caído, teria tirado uma nota menor", justificou.

Apesar de ter ficado fora do pódio, Jade aprovou o seu desempenho nas Olimpíadas. "Eu cheguei na final do salto, algo que nunca tinha acontecido antes, e a equipe foi bem", disse.

Após os Jogos de Pequim, Jade Barbosa vai assumir um novo papel na seleção brasileira. Com as aposentadorias de Daniele Hypólito e Daiane dos Santos, além da fase ruim de Laís Souza, caberá a ela a condição de tutora das novas apostas do país, como Ana Cláudia Silva, Ethiene Franco e Khiuani Dias.

O jeito tímido e a fama de 'chorona' marcam a trajetória de Jade Barbosa. Revelada pelo Flamengo, a atleta foi integrada à seleção brasileira de ginástica em 2006 e não precisou de muito tempo para se destacar. Após o sucesso no Pan, ficou conhecida nacionalmente.

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